domingo, 18 de setembro de 2011

Contradições Sociais

No dicionário filosófico contradição é o ato de afirmar e de negar, ao mesmo tempo, uma mesma coisa. Hoje voltei a pensar nas contradições da vida; rememorei uma das minhas incontáveis voltas para Cornélio na rodoviária de Campinas, na época do doutorado, em que me chamou atenção um moço negro, de uns 18 anos, esperando o ônibus com rosto cansado e desolado, comecei conversar com ele...
Minha primeira pergunta foi: você estuda? E ele disse meio envergonhado: “- não, eu  apenas trabalho, com o que ganho não tenho como, mal dá pra ajudar minha família”, o salário, não chegava ao mínimo. Falei pra ele fazer um esforço e voltar a estudar, como o que eu estava fazendo para terminar os meus estudos, (as pessoas não sabem quanto sacrifícios a gente faz para isso, financeiro, temporal, familiar, psicológico, físico)...
Argumentei que só através da educação crítico, da apropriação crítica do conhecimento poderíamos mudar algo nesse país, superar alguns preconceitos, a alienação; uma das falas dele que me tocou foi sobre o preconceito que ele sofria, dizendo que as pessoas sempre o olham com desconfiança, seja pela forma de vestir, ou pela cor, enfim das diferenças sociais que sente na pele todo dia, da dificuldade de arrumar um trabalho por ser de uma origem humilde; conversamos um bom tempo até meu ônibus chegar, falamos das desigualdades sociais, das minhas lutas e das dele, e voltei de lá pra casa refletindo...
 Pensando nas contradições da vida e nas desigualdades sociais que sofrem nosso povo inconscientemente. Fiquei pensando no quanto o discurso é contraditório, desde os primórdios, os homens falam de igualdade, solidariedade, paz; no entanto, o que assistimos além das guerras mundiais e urbana, é o quanto o ser humano  está contradizendo à sua própria razão de ser,  no quanto se gasta em armas, nos milhões que nutrem o tráfico, naqueles que podem comprar tudo o que desejam , enquanto outros mal conseguem ter o que comer saudavelmente. Diariamente, morrem milhares de crianças por desnutrição no tal mundo globalizado e de altas tecnologias; sem falar nas mortes não menos estúpidas dos suicidas que perderam o sentido da vida,  ainda que, em  países “desenvolvidos”; das decorrentes guerras e atos terroristas que pregam o discurso da paz. Não é muita contradição?
Penso como as pessoas estão se esquecendo do quanto precisam do outro, de que a vida só tem sentido se for compartilhada. As pessoas que sofrem caladas, perderam a capacidade de indignação, assistem todos os dias à violência e a corrupção como se fosse filme, uma ficção e não a realidade. Me pergunto porque tanto fascínio pelo poder? O homem gananciosamente busca dominar o mundo, enquanto é incapaz de dominar a si mesmo. Pode haver maior contradição?
Retomando Sócrates, o homem deveria se tornar "senhor de si mesmo"; ou, como dizia Buda: "mais glorioso não é quem vence em batalhas milhares de homens, mas sim quem a si mesmo vence". De que adianta ainda tantos avanços tecnológicos se a humanidade ainda não compreendeu que para dominar e transformar o mundo num lugar melhor precisa resolver primeiro a contradição humana, dentro de si mesmos e não fora?
Os conflitos que vivenciamos, são resquícios interiores, as contradições externas expressam o quanto estamos sendo dominados por ideologias, interesses políticos capitalistas, pela nossa falta de auto-domínio. As pessoas vivem centradas em si, vitimizadas por seus problemas, envergonhadas de dizer o pouco que ainda sentem, porque estão se tornando frias, “engolindo tudo”, sem gritar alto o que não suportam, deveríamos gritar quando sentimos vontade, quando a dor queima, chorar quando o peito está sufocado, dançar quando nos sentirmos agraciados, beijar alguém e sair pulando quando se sentir feliz, apaixonado; mas somos uma sociedade que tem que se portar “adequadamente”, e suportar o insuportável; e assim a humanidade vai vivendo, ou melhor, sobrevivendo, nesse mundo tão contraditório, e continuam calados, silenciados, isolados, andando cabisbaixos pelas ruas, sem sequer olhar pro alto e ver o quão belo é céu com toda sua imensidão e do quanto somos pequenos, se solitários; sem olhar pro lado e apreciar a pouca paisagem que ainda resta do que humanidade não tenha depredado; ou lançar um sorriso a quem passa; sem perceber o outro, a gente segue, no enclausuramento que estamos condicionados.
Vivemos uma sociedade dogmática, falsamente moralista, mercantil, onde o capitalismo condiciona de modo impositivo e sem contestação, uma sociedade de muitos mas para poucos, fundamentada na autoridade política, falseada de democrática, mas imperialista, que não deixa espaço para crítica,  porque produz alienação e não privilegia uma educação emancipatória, libertadora, humanizadora. Essas são algumas das contradições da vida, que uma educadora “demasiadamente humana”, ainda se permite pensar e busca superar... 

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