terça-feira, 8 de março de 2011

Dia Internacional da Mulher - refletindo sobre Sexualidade, Gênero e Classe! Dia Internacional da Mulher: Emancipação Feminina?

 Ainda temos muito que lutar!
A sexualidade da mulher, antes repressiva,  numa sociedade capitalista mercantil pós moderna, ou ainda é vivida de maneia reprimida ou exacerbada, condicionada pelo mercantilismo sexual do mercado capitalista que com uma visão pós-moderna vendeu a ideia de emancipação sexual da mulher, quando na verdade escondeu que essa emancipação foi pautada numa “estética” sexual e corporal, que do corpo reprimido e oculto, tornou-se escrava de uma beleza sexual corporal e objeto (pois, lamentavelmente ainda hoje, reduzem às qualidades de uma mulher à um corpo belo), ledo engano, pensar que já atingimos a emancipação sexual feminina, estamos longe disso, especialmente porque acredito que nós mulheres só atingiremos essa liberdade e igualdade quando conseguirmos que a sociedade reconheça nossos potenciais intelectuais, culturais e profissionais, que estão muito além do reducionismo corporal feminino. Nossa luta não é apenas por liberdade, mas por conscientização, por igualdade de direitos e deveres, por reconhecimento social de nossas potencialidades, em que as diferenças biológicas sejam respeitadas, mas não sejam motivo para inferiorizar ninguém. Nossa luta é por uma sociedade onde as  pessoas sejam capazes de refletir criticamente e então, viver sua sexualidade de maneira plena, qualitativa, saudável, responsável afetiva e corporalmente, superando a tradição patriarcal repressiva e a mercantilização permissiva, extremista, exacerbada e falsamente hedonista, onde a liberdade virou libertinagem.
Tolstoi afirma : “Actualmente, tem-se a pretensão de que a mulher é respeitada. Uns cedem-lhe o lugar, apanham-lhe o lenço: outros reconhecem-lhe o direito de exercer todas as funções, de tomar parte na administração, etc.; mas a opinião que têm dela é sempre a mesma - um instrumento de prazer. E ela sabe-o. Isso em nada difere da escravatura. A escravatura mais não é do que a exploração por uns do trabalho forçado da maioria. Assim, para que deixe de haver escravatura é necessário que os homens cessem de desejar usufruir o trabalho forçado de outrem e considerem semelhante coisa como um pecado ou vergonha. Entretanto, eles suprimem a forma exterior da escravatura, depois imaginam, persuadem-se de que a escravatura está abolida mas não vêem, não querem ver que ela continua a existir porque as pessoas procedem sempre de maneira idêntica e consideram bom e equitativo aproveitar o trabalho alheio. E desde que isso é julgado bom, torna-se inveitável que apareçam homens mais fortes ou mais astutos dispostos a passar à acção. A escravatura da mulher reside unicamente no facto de os homens desejarem e julgarem bom utilizá-la como instrumento de prazer. Hoje em dia, emancipam-na ou concedem-lhe todos os direitos iguais aos do homem, mas continua-se a considerá-la como um instrumento de prazer, a educá-la nesse sentido desde a infância e por meio da opinião pública. Por isso ela continua uma escrava, humilhada, pervertida, e o homem mantém-se um corruptor possuidor de escravos.” (Leon Tolstoi, in 'Sonata a Kreutzer')
A Educação Sexual que tanto almejamos objetiva a construção de uma sociedade onde as relações sejam pautadas na igualdade de direitos, deveres e espaços, com respeito, afetividade, sensualidade e não na vulgaridade, no erotismo e não na banalização, onde homens e mulheres (sejam homossexuais, bissexuais ou heterossexuais) deixem de ter essa classificação que segrega e sejam tratados acima de tudo, como seres humanos que somos, e onde todos possamos ter uma relação social e sexual pautada na igualdade, no respeito, na ética.Por isso, voltamos a dizer ,que embora a educação sexual precisa superar apenas a dimensão médica-higienista-biologista que reduz a sexualidade à prevenção de DST´s, preservativos e anticonceptivos; superarmos também a visão meramente procriativa e anatômica da sexualidade, que acaba por reduzir à sexualidade ao sexo (macho e fêmea), às genitálias, como se a sexualidade fosse apenas isso.  Precisamos superar a educação do modelo patriarcal e dual para meninos e meninas. Nesse sentido, já afirmou Simone de Bevouair que, “ se desde a primeira infância a menina fosse educada com as mesmas exigências, as mesmas honras, as mesmas severidades e as mesmas licenças que seus irmãos, participando dos mesmos estudos, dos mesmos jogos, prometida a um mesmo futuro, cercada de mulheres e de homens que se lhe afigurassem iguais sem equívoco, o sentido do "complexo de castração" e do "complexo de Édipo" seria profundamente modificado. Assumindo, ao mesmo título que o pai, a responsabilidade material e moral do casal, a mãe gozaria do mesmo prestígio duradouro; a criança sentiria em torno de si um mundo andrógino e não um mundo masculino; ainda que mais efetivamente atraída pelo pai — o que não é seguro — seu amor por ele seria matizado por uma vontade de emulação e não por um sentimento de impotência: ela não se orientaria para a passividade. Autorizada a provar seu valor no trabalho e no esporte, rivalizando ativamente com os meninos, a ausência do pênis — compensada pela promessa do filho — não bastaria para engendrar um "complexo de inferioridade"; correlativamente, o menino não teria um "complexo de superioridade" se não lho insuflassem e se estimasse as mulheres tanto quanto os homens. A menina não procuraria portanto compensações estéreis no narcisismo e no sonho, não se tomaria por dado, interessar-se-ia pelo que faz, empenhar-se-ia sem reticência em suas empresas. Disse quanto a puberdade seria mais fácil se ela a superasse como o menino, em direção a um futuro livre de adulto; a menstruação só lhe inspira tamanho horror porque constitui uma queda brutal na feminilidade; ela assumiria também muito mais tranqüilamente seu jovem erotismo se não sentisse um desgosto apavorado pelo conjunto de seu destino; uma educação sexual coerente a ajudaria a sobrepujar a crise. E graças à educação mista, o mistério augusto do Homem não teria oportunidade de surgir: seria destruído pela familiaridade quotidiana e as competições francas. As objeções que se opõem a este sistema implicam sempre o respeito aos tabus sexuais; mas vão pretender inibir na criança a curiosidade e o prazer; chega-se assim tão somente a criar recalques, obsessões, neuroses; o sentimentalismo exaltado, os fervores homossexuais, as paixões platônicas das adolescentes, com todo o seu cortejo de tolice e de dissipação, são muito mais nefastos do que alguns jogos infantis e algumas experiências precisas. O que seria principalmente proveitoso à jovem é o fato de que, não buscando um semideus no macho — mas apenas um colega, um amigo, um parceiro — não se veria instalada a não assumir ela própria sua existência; o erotismo, o amor teriam o caráter de uma livre superação e não o de uma demissão; ela poderia vivê-los como uma relação de igual para igual. “
 Hoje é uma data que simboliza a busca de igualdade social entre homens e mulheres, em que as diferenças biológicas sejam respeitadas, mas que elas não sirvam de pretexto para subordinar e inferiorizar a mulher.
Essa data se orgina do dia 8 de março de 1857, onde trabalhadoras fabris de uma indústria têxtil de Nova Iorque (EUA), em greve e ocupação pela diminuição da jornada de trabalho, foram trancadas e, a fábrica foi incendiada, provocando-se assim a morte de 129 operárias.
O Dia Internacional da Mulher é referencial para todas as mulheres comemorarem suas lutas e homenagearem suas mártires, mas é acima de tudo de um dia de reflexão.
Veja a força da nossa luta. A ação direta de mulheres operárias, desencadeou a primeira fase da Revolução Russa.Ou seja, a maior revolução social do século XX, pela primeira vez na história da humanidade, tivera início, com jovens mulheres russas à frente de seu primeiro e decisivo passo.
Líderes do movimento comunista como Clara Zetkin e Alexandra Kollontai ou anarquistas como Emma Goldman lutavam pelos direitos das mulheres trabalhadoras, entre as lutas estavam o direito ao voto feminino.
No Brasil só em 1932, é que o Governo de Getúlio Vargas promulgou o Código Eleitoral através de um Decreto, garantindo finalmente o direito de voto às mulheres brasileiras; mas apenas o direito ao voto não alteraria a condição feminina se a mulher não modificasse sua própria consciência. Porque a libertação da mulher exige mudanças em âmbitos não apenas políticos, mas econômicos e sociais, a libertação da mulher não pode tão-só representar um problema de gênero mas, sobretudo, é uma questão de classe.
Ainda hoje sofremos preconceitos e exploração. Um exemplo é a exploração e mercantilização do corpo das mulheres crescem na globalização, mas são expressões antigas e atuais da opressão e exploração das mulheres. No Brasil, esta problemática foi vivida, sobretudo, pelas mulheres negras e pobres, desde o período colonial, mantendo-se até os dias de hoje. A imagem do corpo da mulher associada à venda de mercadorias reproduz, no plano simbólico, a idéia de que o corpo das mulheres pode ser mercantilizado.
Em relação a vivência da sexualidade nossa luta ainda é para que toda mulher tem direito à liberdade sexual, à autonomia reprodutiva e autodeterminação sobre seu corpo. As mulheres, de maneira geral ainda são as mais sacrificadas e, por muito tempo, foram castradas em seu desejo sexual, como se este o desejo fosse um exclusivo direito masculino. As mulheres orientais até hoje sofrem castração do hímen quando ainda mocinhas pelos seus pais, sem ter direito a sentir prazer, apenas proporcionar, ou seja tornam-se propriedade e objeto dos maridos. Ainda hoje, as mulheres são inferiorizadas e vistas como objetos, no entanto as mulheres assim como os homens têm desejos, sentimentos, sonhos, vontades, necessidades e direito de dizer sim ou não, mulheres assim como homens não são propriedade privada nem objeto, nem mercadoria, são seres humanos.
  Nossa luta dever ser:
Pelo fim da mercantilização do corpo das mulheres
Pelo fim da exploração sobre a sexualidade das mulheres
Pelo direito das mulheres a decidir sobre ter e não ter filhos
Pela defesa dos serviços públicos de qualidade: creches, escolas e serviços de assistência à saúde.
Por serviços especializados no atendimento à mulher.
No Braisil só em 1985 é que surge a primeira Delegacia de Atendimento Especializado à Mulher - DEAM, em São Paulo;
A violência contra as mulheres aumenta a cada dia e a maioria dos municípios ainda não possuem um atendimento especializado para as mulheres.
Importante dizer que,  nós mulheres precisamos participar mais e ativamente da vida política do nosso país. A política é uma das atividades mais importante para transformar a vida das mulheres, e da sociedade nós mulheres precisamos ainda aumentar nossa participação política para que possamos influir sobre os rumos da nossa comunidade, do nosso país, da nossa história.
Ainda que os homens tenham maior força bruta, as mulheres têm mais energia, mais sensibilidade, têm uma visão mais geral das coisas e do mundo, têm intuição, percepção, tato, e mais disposição e enfrentamento da vida, da dor, do trabalho elas precisam apenas ter consciência de que se elas quiserem podem mudar sua realidade e o mundo.
Como eu disse este dia não é exatamente de comemoração mas sim de reflexão!
Pretende-se chamar a atenção para o papel e a dignidade da mulher e levar-nos a uma tomada de consciência do valor da pessoa, perceber o seu papel na sociedade, contestar e rever preconceitos e limitações que vêm sendo impostos à mulher.
A mensagem final que eu deixo para minhas companheiras mulheres nesse dia é de resistência, de luta, de força e coragem, características que já estão em cada mulher e que em muitas delas precisam apenas ser afloradas.
Espero que todas as mulheres, tenham direito ao amor e ao prazer, mas acima de tudo, sejam respeitadas em sua dignidade de mulher, e para isto eu digo estudem, tenham sua autonomia, física, emocional e financeira, só assim nos tornando independentes financeira e intelectualmente seremos capazes de dizer que somos realmente livres, respeitadas e com direitos iguais. Ter renda própria é condição imprescindível para liberdade e autodeterminação das mulheres na vida adulta e na velhice. Estudar, adquirir autonomia de pensamento é sem dúvida também uma condição ímpar para essa libertação.
 Enfim, desejo que todas as mulheres assim como todos os seres vivos tenham mais dignidade e respeito.
Lutemos juntas para que as diferenças culturais de gênero sejam superadas e tenhamos direito de ser mulheres em nossa totalidade!
Meu abraço, minha admiração e respeito à todas as mulheres sensíveis e guerreiras, em especial à minha Mãe Cleuza, às minhas filhas Caroline e Beatriz, Às minhas irmãs Valdete e Márcia, às minhas queridas amiga Célia Ott, Luciana Gerbasi,  à todas as minhas amigas pessoais e companheiras de trabalho e à todas vocês mulheres guerreiras que acompanham nosso trabalho.
Profª Dra Cláudia Bonfim


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 e confira na íntegra essa reflexão histórica sobre o Dia Internacional da Mulher, ligados à temática sobre a emancipação, a violência simbólica e a desvalorização feminina interpretada pela Profa. Dra Cláudia Bonfim. Vale a pena conferir!



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