terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Entrevista ao Portal IG de Brasília sobre a inserção do tema Homofobia nas escolas

“ Os casos de violência contra homossexuais cada vez mais constantes tornam o tema diversidade sexual ainda mais urgente nos currículos, na avaliação da professora e doutora na área Claudia Bonfim, que é pesquisadora da Unicamp. “As pessoas precisam entender, primeiro, que a homossexualidade não é uma escolha. É fruto da genética, da educação e da cultura que receberam ou resultado das relações que nem elas têm consciência. Só assim passarão a respeitar essas pessoas”, pondera.

Cláudia defende que a educação sexual seja inserida formalmente nos currículos das escolas, tanto no ensino fundamental quanto no ensino médio, assim como no das licenciaturas e pedagogia. “Não há uma disciplina obrigatória sobre esse tema na formação dos professores. Eles não estão preparados para lidar com ele. E a educação sexual precisa transcender o caráter biológico da sexualidade”, ressalta. Para ela, a produção de materiais para os alunos também é importante. “Não há um material sequer sobre o tema”, critica.”
 Leia a reportagem de Priscilla Borges do Portal IG de Brasília com trechos da entrevista que concedemos através do link abaixo.
http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/video+sobre+homofobia+para+adolescentes+levanta+ira+de+deputado/n1237865139161.html
Devo dizer, que não opinei sobre o vídeo a ser distribuído, pois não vi o material e não poderia me manisfestar sobre ele. Falei apenas sobre a importância da superação da homofobia na escola, assim como na sociedade. Porém, reafirmamos: a questão não é inserir uma temática, seja ela qual for no ambiente escolar, mas como será feita essa abordagem? que linguagem será utilizada? Em que estudos serão pautadas os debates? Porque assim como a sexualidade é um tema complexo, a temática da homofobia é ainda mais, pois envolve muitas questões delicadas como a religião, por exemplo, por isso temos que ter respeito e cuidado para não banalizar, nem estimular, e sim combater qualquer forma de discriminação.

RESSALTO, retomando algumas reflexões anteriomente feitas aqui no blog e como defendemos em nossa tese de Doutorado, não basta inserir a temática na escola, sem que os docentes não estejam preparados para debater o tema, se os mesmos ainda não estão capacitados sequer para tratar da sexualidade de maneira geral, muito menos da temática da Homofobia, os professores precisam primeiro ser orientados adequadamente, pois como todos nós, somos fruto de uma educação sexual patriarcal, machista, repressora repleta de preconceitos e tabus. É urgente forrmar continuamente os docentes que estão em sala de aula para que possam superar seus próprios preconceitos, assim como os futuros docente para saber como lidar com as questões da sexualidade. E a questão não é aceitar, é RESPEITAR. Ninguém precisa aceitar isso ou aquilo, mas todos os seres humanos merecem respeito. 

Embora, algumas pessoas considerem a homossexualidade uma escolha, e respeitamos, pois vivemos numa sociedade democrática, onde todos temos a liberdade de expressão, nós pautados em estudos científicos de autores respeitados na história da ciência e da humanidade, e pelos discursos incorporados em nossos estudos, bem como pelas pesquisas de campo que já realizamos e pela observação sensível dentro de nossa  práxis como educadora, consideramos que a homossexualidade não é uma escolha, e segundo estudos de alguns teóricos a homossexualidade pode ser genética (em alguns casos) ou sócio-histórica, afetiva-ambiental, inconscientemente desenvolvida dentro das fases do desenvolvimento psicossexual como explica Freud no Complexo de Édipo e Electra que já apontamos no blog anteriormente. Sendo genética ou não, é uma construção inconsciente a formação da identidade de gênero e, por isso, não pode ser condenada.
A forma como vivemos e entendemos nossa sexualidade é construída historicamente e culturalmente, através de um processo contínuo, através do qual construímos nossa identidade pessoal, social e sexual que emerge nos desdobramentos sócio-históricos e culturais.
Quero ainda dizer que,  a afirmação de que em alguns casos a homossexualidade é genética, provém de estudos científicos de outros cientistas, que afirmam isso. No Congresso Brasileiro de Sexualidade realizado em outubro de 2009, em Foz do Iguaçu, um médico e pesquisador  nos mostrou diversos estudos e pesquisas mundiais que comprovavam que em alguns casos a ressonância magnética do cérebro de uma mulher heterossexual e um homem homossexual seriam idênticas nesta questão, assim como de um homem heterossexual e uma mulher homossexual, no entanto, esses casos são raros, a maioria dos casos como afirma um dos estudiosos mais respeitados da história, Freud, seriam fruto da forma como vivemos e entendemos nossa sexualidade desde que nascemos, leia sobre o Complexo de Édipo e de Electra e poderá entender cientificamente como nossa sexualidade é construída historicamente e culturalmente, através de um processo histórico contínuo, através do qual se forma nossa identidade pessoal e sexual sendo que esta emerge nos desdobramentos históricos, afetivos e culturais.
Se os pais e as pessoas de maneira geral soubessem o quanto a relação afetiva que as crianças vivenciam na infância é importante para a construção de sua identidade pessoal, social e sexual, tratariam de conhecer melhor como se dá esse processo de desenvolvimento, pois quando uma criança cresce dentro de um relacionamento disfuncional, seja, por troca de papéis, seja pelo aspecto afetivo essas fases do desenvolvimento não completam. A forma como exercemos nossos papéis afetivo-sexuais com nossos companheiros e com nossos filhos podem marcá-los positiva ou negativamente para o resto de suas vidas.  Sendo assim, geneticamente ou não, seria inconsciente. O que falta nas matérias é a contextualização, o que muitas vezes distorce o entendimento do que dissemos na totalidade. 

Assim como Louro (1988) e Nunes (2002) afirmamos que gênero não é “sinônimo” de sexualidade. Sexualidade diz respeito a relacionamento humano. Como afirmou Nunes (2002, p.14) “[...] as relações sexuais são relações sociais, construídas historicamente em determinadas estruturas, modelos e valores que dizem respeito a determinados interesses de épocas diferentes”.

Portanto, as distinções de comportamento, valores, e até mesmo a percepção e construção da nossa identidade enquanto sujeitos, da visão que acreditamos que devemos ser enquanto homens e mulheres, da imagem que construímos de nós mesmos se dá nessas interações, nessas relações de gênero, que lamentavelmente demarcam e limitam nossa possibilidade de se reconhecer, de se relacionar e de ser. A visão reducionista social da sexualidade vai conferindo uma forma pré-moldada e limitando nossas possibilidades de sermos sujeitos de nossa própria história e de vivermos a sexualidade de maneira saudável, plena e emancipatória.

Quando a sociedade estabelece representações sociais do que é ser homem e o que é ser mulher (heterossexual, homossexual, bissexual) sustentam preconceitos e desigualdades que precisam, urgentemente, ser superados. Eis aí necessidade fundamental de que cada pessoa possa reconhecer-se como sujeito da própria história e, como sujeito sexual nas relações que se estabelece com o mundo a partir do próprio corpo e da relação com outros corpos. Isso nos leva a entender nos formamos das relações que estabelecemos com o mundo e com o outro.

O que é uma das justificativas que apontam a necessidade de superarmos o conceito reducionista de sexualidade. Se entendemos a sexualidade como a relação humana, precisamos reconhecer que toda relação em si envolve a nossa sexualidade, o que não significa envolvimento sexual (no sentido de sexo, de prática sexual), e sim, de relações afetivas,  de construção de vínculos afetivos e atitudinais. E só podemos compreender isso se concebermos a sexualidade para além do aspecto biológico e reducionista do sexo, no momento em que passamos a compreendê-la como expressão da subjetividade humana.
  
Precisamos superar essa visão da heteronormatividade: de que homens e mulheres têm que agir de maneira socialmente e, subjetivamente distintas. É urgente entendermos que a sexualidade deve ser vivida naturalmente não dentro de padrões normativos, mas de uma forma que nos torne mais humanos e mais felizes, porém conscientes de nossas responsabilidades éticas e afetivas.

Essa classificação e heteronormatização da sexualidade, dá-se, inclusive, pela visão reducionista e meramente procriativa e anatômica da sexualidade, que acaba por reduzir à sexualidade ao sexo (macho e fêmea), às genitálias, como se a sexualidade fosse apenas isso e para reproduzir. E como se o amor entre os seres se desse apenas pela necessidade de reprodução e as pessoas só se aproximassem umas das outras apenas pelo desejo sexual. Não se ama alguém pelo gênero ao qual pertence, nem pela orientação sexual que possui. Aliás, por isso eu sempre digo: eu não falo de sexo, eu falo de SEXUALIDADE.Quando a gente ama alguém de verdade, no sentido pleno e sublime da palavra, ama-se pelo que o outro tem do lado de dentro! E pelas sensações internas que o outro provoca dentro de nós. E no final é isso que realmente importa.

Não podemos deixar de ressaltar que a superação Homofobia é um a priori para a sexualidade emancipatória. Todos os seres humanos merecem ser respeitados.

Consideramos que, essas classificações sexuais criadas pela sociedade (hetero, homo, bi) segregam, dividem. Somos todos seres humanos: independente da orientação sexual ou do gênero.  Temos, sim, que respeitar à diversidade sexual e o direito ao Amor acima de tudo, amor entre todos os seres, independente do gênero, classe, etnia, orientação sexual.  Amor é assexuado, não possui limitações, nem classificações.  Que sejamos capazes de amar o ser humano, de sentir o amor na sua essência mais pura como bem traduz esse poema de Layse Moraes:

A minha vida toda eu amei pessoas.
Pessoa, para quem não sabe,
é um substantivo e significa criatura humana.
O amor pra mim se dá pelo cuidado.
Pela delicadeza que se tem com o outro.
Depois pelo toque.
Pelo cheiro.
Pela disposição do sorriso.
Pelo jeito de olhar, piscar.
Pelas batidas do coração.
Pelo encaixe das mãos e dos corpos.
Pelo esticar dos dedos do pé no orgasmo.
O amor pra mim é atemporal no tempo em que durar.
É infinito na sua finitude.
É assexuado na sua existência.
É amor puro. Assim, sem complicações.
E de repente, penso que essas coisas de amor,
de se dividir com alguém e em alguém, são simples demais.
A gente é que complica tudo.
O amor pra mim se encontra na primeira pessoa no plural.
O amor pra mim independe do que se carrega no meio das pernas.
 E sem querer ser piegas, mas já sendo há tempos,
o amor pra mim depende apenas do que se carrega do lado dentro.
Átrio, ventrículo, miocárdio.
E se tem um órgão que deveria ser levado em conta
na hora de julgar a verossimilhança do amor, é este.
E enquanto o mundo grita estupidez e pequenez,
eu gozo de um amor tão grande que extrapola a matéria.
E vivo de um amor tão doce que – tenho certeza –
pouquíssimas pessoas já experimentaram.  (Layse Moraes, adaptado)

 Entendemos que omitir, ocultar ou ignorar a existência de um preconceito é contribuir para que ele aumente e se perpetue. Em relação à homoafetividade sabemos que, muitos docentes preferem “fazer de conta que não ouviram”, “não viram”, algum tipo de discriminação, a enfrentar o problema que muitas vezes, começa como se fossem “piadas” e “brincadeirinhas” ditas inofensivas, mas carregadas de preconceito. Importante apontar que os livros didáticos ao abordar o conteúdo de sexualidade também omitem a questão apresentando sempre o padrão biológico reprodutivo da heterossexualidade.

Apontamos  a necessidade de superarmos em primeira instância dentro do espaço escolar a intolerância às diferentes orientações sexuais buscando garantir o direito à liberdade sexual que tem provocado sofrimento e exclusão social dos homossexuais e que de certa forma também é prejudicial ao bem-estar e à formação de todos os seres humanos, independente de suas orientações sexuais.

Uma das maiores reclamações femininas sobre seus relacionamentos implica sobre a falta de sensibilidade do sexo masculino. Porém, acreditamos que a dificuldade do gênero masculino em demonstrar sua afetividade, seus sentimentos e desejos, está inserida no contexto de uma sociedade homofóbica, patriarcal e machista, a qual se condicionou a caracterizar que o homem tem que ser forte, macho, não pode demonstrar seus sentimentos, não pode chorar, deve ter uma expressão fechada, ou seja, deve exorcizar de si qualquer traço de feminilidade para consolidar a hegemonia masculina arraigada nos padrões morais da sociedade.

Como afirma Souza (s/d., Online, p.60): “[...] tradicionalmente a construção do que é ser homem, contraposta ao que é ser mulher, tem sido hegemonicamente associada a um conjunto de idéias e práticas que identificam essa identidade à virilidade, à força e ao poder advindos da própria constituição biológica sexual.”
Quando algumas pessoas do gênero masculino se diferenciam dessas características socialmente estabelecidas, são muitas vezes, consideradas homossexuais apenas por escolherem atuar profissionalmente em carreiras predominantemente femininas, pelo fato de não se encaixarem do padrão profissional “masculino” considerado ideal na sociedade. Por demonstrarem algum tipo de afeto seja pela mulher, seja por seus filhos (consolida a agressividade masculina condicionada na regra social). Ou seja, quando tratamos de violência contra a mulher, o problema também perpassa pela homofobia. Condiciona-se socialmente que o gênero masculino tem que ser racional e sufocar sua subjetividade. Poderíamos concluir que, o preconceito afeta o bem-estar social e subjetivo. Portanto acabar com o preconceito é uma tentativa de melhor a qualidade da convivência de todos os seres humanos.
A sexualidade não se reduz a instintos, impulsos, genes, hormônios, genitálias, ato sexual, nem se resume somente à subjetividade ou às possibilidades corporais de vivenciar prazer e afeto. O fato de nascermos com um determinado sexo biológico (masculino e/ou feminino), não é suficiente para determinar a maneira como iremos sentir, expressar e viver nossa sexualidade, ou construir nossa identidade de gênero, nossa orientação sexual não pode ser determinada pela visão hegemônica de heterossexualidade como único padrão “normal”.  E orientação sexual de uma pessoa não diminui em nada o seu caráter e sua potencialidade humana e profissional. 
 Concluímos esta reflexão, parafraseando Santos (2001),  que diz que devemos lutar pela igualdade sempre que a diferença nos inferiorizar, nos discriminar, nos excluir e devemos lutar pelo respeito a diferença quando a igualdade hegemônica nos descaracterizar, nos padronizar.  Ele afirma “tudo o que é homogêneo tende a transformar-se em violência excludente. ” 
Repito, creio que ou há um equívoco na leitura que algumas pessoas  fizeram da entrevista referente à minha fala. Eu não critiquei o material até porque não tive ainda acesso à ele. Creio que faltou uma contextualização. Sou professora efetiva no Ensino Fundamental,  e sei que realmente não há nenhum material didático oficial nas escolas até o momento que aborde a temática da Homofobia. Como pesquisadora, já apontei em minha tese de Doutorado que a abordagem escolar da sexualidade ainda se pauta na abordagem biológica-higienista-genitalista focando a reprodução, métodos contraceptivos e a prevenção de DSTs e Aids. E mais, como conforme constatei em pesquisa com os próprios docentes estes não estão preparados ainda para abordar algumas questões básicas da sexualidade e muito menos para tratar de um tema ainda socialmente polêmico e lamentavelmente envolto de preconceito. Precisamos antes de qualquer coisa, da formação docente. Ninguém convence o outro sobre aquilo que nem a própria pessoa respeita. 
 Somos contra qualquer tipo de violência e preconceito. E exatamente por ser cristã, acredito que todo ser humano merece respeito. Repito ninguém é obrigado a aceitar, nem concordar comigo, agora respeitar sim! Seja uma pessoa ou uma idéia, uma crença ou mesmo a ciência.
 Com meu respeito, atenciosamente,
Profa. Dra Cláudia Bonfim 

4 comentários:

  1. Dra. Claudia Bonfim,
    Me chamo Disney, sou professor de língua inglesa. Gostaria de dar-lhe meus parabéns pela publicação. Tão relevante e emergente. Tenho um blog voltado para novas práticas no ensino da língua inglesa, onde desenvolvemos conteúdos sociais pertinentes à educação. Pedimos a sua autorização para disponibilizar parte desta postage, em nosso blog, no ano de 2011, para fins educativos, preservando-se os créditos da sua postagem.

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  2. Olá Disney, grata pelo comentário, claro, pode disponibilizar sim. E volte sempre que puder em nosso espaço. Abraços e obrigada!

    Profa. Dra Cláudia Bonfim

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  3. Ola prof(a) parabéns pela clareza das afirmações e do pensamento, creio que se mais educadores adotassem tal postura a educação avançaria significativamente para uma educação de qualidade pautada no respeito e conscientização dos fatos.
    Beijão até mais

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  4. Oi amiga,

    Parebens. Muito bom seu comentário sobre o tamanho do clitores. Gostaria de te falar sobre um assunto que considero importante e que tenho certeza muitas mulheres adorariam saber.
    bjs

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