domingo, 4 de julho de 2010

SEXUALIDADE DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS

As crianças, de maneira geral, são vistas pelos pais, escola e sociedade como assexuadas. Essa realidade é ainda mais agravante, no que se refere às crianças e adolescentes Portadores de Necessidades Especiais.  Lamentável que, ainda hoje, a sexualidade seja vista de forma tão negativa, sendo ela nossa forma mais bela de se ser, expressar e se relacionar com o mundo.
Negar, ocultar ou estigmatizar a sexualidade das crianças e adolescentes apenas mostra um desconhecimento e dificuldade dos adultos em lidar com sua própria sexualidade.
Velar, silenciar, ocultar, deixar de esclarecer as dúvidas da criança sobre sua sexualidade e dos cuidados que deveria possuir frente a esta, é deixar de oportunizar que esta desenvolva o auto-cuidado, o respeito por si mesma, que irá resultar no aumento seus conflitos internos.
Importante lembrar que a maldade, muitas vezes está nos olhos de quem vê. Os questionamentos e comportamentos sexuais da criança são naturais, saudáveis e fazem parte da construção de sua identidade e da sua subjetividade, ou seja, criança não demonstra o mesmo entendimento de um adulto, ela está apenas tentando se conhecer e o compreender o mundo que a rodeia, portanto, julgamentos morais não devem existir.
Segundo dados do Censo 2000, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de dois milhões de adolescentes e jovens brasileiros de quinze a vinte e quatro anos são portadores de necessidades especiais. Mesmo com os avanços do movimento pela sociedade inclusiva, ainda há um aspecto pouco discutido em relação à adolescência de pessoas com necessidades especiais: a sexualidade.
A inclusão social, especialmente, no que se refere a inclusão dos portadores de necessidades especiais é uma das propostas mais divulgadas pelo Governo, onde defende-se a transformação da sociedade, a partir do respeito à diversidade e do direito à cidadania.
Há aspectos amplamente debatidos e considerados sobre esta questão como o medo dos pais em relação à sexualidade do adolescente com necessidade especial que ao iniciar uma vida sexual possa ocorrer a gravidez e que ao vivenciar o namoro possa sofrer abusos sexuais ou serem rejeitados socialmente, nesse sentido, na tentativa de proteger os filhos, muitos pais, negam-lhe o direito de viver sua sexualidade. Este é um desafio e um preconceito que precisa ser superado.
Se compreender a sexualidade já é um processo difícil, na adolescência, daqueles que teoricamente se enquadram no modelo de “normalidade”, preconizado pela mídia e pela sociedade, essa experiência pode ser frustante sem uma educação sexual adequada, pois,  além dos conflitos emocionais da adolescência estas, sofrem outros preconceitos e estigmas, especialmente relativos à sua sexualidade.
Se a família e a escola sente dificuldade em tratar da sexualidade das pessoas teoricamente dotadas de todos os sentidos, imagine então, quando o assunto é sexualidade dos pessoas portadoras de necessidades especiais, a visão ainda é muito estigmatizada. Lamentavelmente a sexualidade das pessoas portadoras de necessidades especiais, ainda é discriminada e reprimida.
Um dos maiores equívocos que precisam ser esclarecidos é que uma pessoa pode ser portadora de alguma necessidade especial, porém, não é portadora de uma deficiência sexual. Há que se ressaltar aos pais e educadores que as crianças e adolescentes portadores de necessidades especiais necessitam ainda mais de informações sobre a sexualidade, pois, de maneira geral as oportunidades que elas possuem de se relacionar, dialogar,  explorar, perceber e conhecer como se comportar socialmente ou individualmente frente aos seus instintos e desejos é são pequenas.
Consideramos ainda que, uma das causas do isolamento social se dá exatamente pelo fato de eles não receberem a educação adequada, inclusive no tocante à sexualidade. Mesmo uma criança ou adolescente portadores de deficiência mental não devem ser privados do convívio social, e sim orientado, pois quanto maior for o convívio com outras pessoas, mais fácil será lidar com aspectos de sua sexualidade.
Muitos pais e educadores equivocadamente pensam que quanto menos a criança e ou adolescente tiver acesso informações sobre sexualidade e  sobre sexo, menor seria a chance deles iniciarem precocemente sua sexualidade. Ledo engano. A sexualidade é inerente ao ser humano desde que nascemos, e irá se desenvolver quer queira ou não. Claro, há que se ressaltar como sempre digo que não devemos acelerar esse processo, mas respeitá-lo. Só se deve falar de sexualidade com a criança a partir de suas curiosidades e necessidades individuais, que varia, de acordo com cada um e com suas vivências familiares, ambientais, sociais, etc. Não podemos expor a criança a cenas sexuais (filmes eróticos, sexo, imagens eróticas), isso seria violentar moralmente a criança, induzindo à sexualidade precoce. Assim, como quando vestimos uma criança, especialmente uma menina com a roupa de uma mulher adulta, estamos também violentando moralmente e expondo essa criança inconscientemente a sofrer um assédio sexual. Porém, devemos entender que as crianças e adolescentes sejam eles portadores de necessidades especiais ou não, precisam aprender a lidar não só com os conflitos emocionais como com sua sexualidade de maneira geral.
A forma como uma criança e posteriormente um adulto vive a sua sexualidade depende da educação sexual que esta recebeu. Ou seja, uma visão negativa, pecaminosa, vergonhosa, banal, exacerbada, envolta de libertinagem, reduz a possibilidade de uma vivência saudável e qualitativa da sexualidade. Há que se desenvolver desde a infância uma visão esclarecedora, positiva, natural, bonita.
Aos pais e educadores deixo hoje uma mensagem final, que tanto ressaltei em minha tese e, ressalto aqui: não devemos jamais reprimir, sermos evasivos ou recriminar, castigar quando uma criança ou adolescente tem uma curiosidade ou demonstra um comportamento ligado ao desenvolvimento natural da sexualidade, devemos orientá-las. sempre de maneira emancipatória, crítica, consciente, responsável, prazerosa, significativa e AFETIVA.
Aos educadores lembrem-se que, falar de sexualidade não é se reduzir a dar palestra de métodos conceptivos e reprodução humana, nem sobre sexo. A sexualidade é nossa totalidade de ser, estar, se relacionar, se compreender, corporal e emocionalmente. É mais do que nossa maneira de vestir, é nossa maneira de sentir, de se desenvolver humanamente. Por isso, a importância de um projeto de educação sexual sempre multidisciplinar, com profissionais de diversas áreas. Uma educação sexual emancipatória que trate a sexualidade em sua complexidade e plenitude, deve envolver especialmente educadores sexuais, sociólogos, psicólogos, médicos, ou seja, EDUCAÇÃO e SAÚDE são as bases primordiais. Ainda não conclui a temática, mas isto fica para um próximo post, até lá!

3 comentários:

  1. Oi Drª, mais uma vez você comenta um assunto que “ditos normais” deixam de lado. Pergunto-me sempre: nós PNE temos algo de tão errado? Somos esquecidos em todos os sentidos frequentemente, qual é o motivo?
    Imagino que um dos motivos que levam “os normais” a tal esquecimento é não pensar no dia de amanhã.
    Eu tive uma vida normal até meus 20 anos, não me lembro em ter pensado em ficar Portador de Necessidades Especiais, imagino que “os normais” são assim também, estou errado?
    Deus não quer que nada de ruim aconteça conosco, mas ele permite, eu não questiono.
    Em relação ao artigo eu penso que os ditos “os normais” pensam que nós PNE não precisamos ter uma vida sexual, pois nossas limitações não permitem, ERRADO!
    Eu tenho 34 anos, sei como ir à caça, rsrs, mas uma criança ou mesmo um adolecente não sabe se não tiver a devida orientação e muito menos conviver com a mesma.
    Percebo que os PNE independente da idade são super protegidos, mas é uma proteção que tira nossa liberdade, e tal proteção não permite nós vivenciarmos a beleza da vida, o que faz com que ficamos diferentes.

    Naldo.

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  2. Naldo mais uma vez fico grata pelo seu comentário em meu Blog. Realmente a super proteção em todos os sentidos impedem as pessoas de viverem suas vidas de maneira plena.
    Abraços!

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  3. Ola prof doutora!!

    Muito interessante esse texto...
    Olha, a minha mãe depois de ter tido 4 filhos devido a depressão pós-parto, agora possui uma deficiencia psicologica, se tornou "criança" novamente e eu minha familia abominamos a sexualidade dela... acho que é querer "super-proteger" demais, como foi citado acima...Ela não é mais adolescente, mas é como se fosse!
    Esquecemos que ela continua viva nesse sentido...
    Muito bom para refletir!!
    hehehe

    Adoro você!
    Beijo, Ana Paula.

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