domingo, 21 de março de 2010

ENTRE A EMANCIPAÇÃO, A NATURALIZAÇÃO E A BANALIZAÇÃO DA NUDEZ FEMININA


A nudez feminina sempre foi alimento ao imaginário masculino, porém interessante pensarmos como em dada época a nudez do corpo feminino representava um fetiche altamente instigador do desejo masculino, não que isso se perdeu totalmente, mas a nudez feminina hoje quase se naturalizou. Porém o que me inquieta não é a naturalização, e sim a banalização. Porque a naturalização ao meu ver implicaria em respeito, assim como ocorre entre naturistas e entre nativos. Eu particularmente, sempre brinco com minhas filhas dizendo que adoraria ter nascido indía, neste sentido, viver naturalmente que está muito longe do conceito de viver de maneira banal. Ou seja, nossa indagação aqui é quando o corpo deixa de ser visto com admiração e encantamento e passa ser visto como mero objeto. Me questiono se houve uma vulgarização do corpo feminino e não uma emancipação feminina. Se a sensualidade deu lugar a vulgaridade, se o olhar que era repleto de desejo e encantamento, passou a ser apenas de um olhar banal sobre um obejto sexual, e pior se este corpo sensual hoje estaria sendo visto como um mero objeto sexual banal.

Lembro da minha adolescência, que um simples decote sensualizando o colo feminino eram sedutoramente erótico e sensual, apreciados por olhares vislumbrados, fixamente fascinado, erotizados, despertando fantasias, paixões e desejos. Hoje, no entanto, o corpos nus e seminus estão por toda parte, das telas da TV e da Internet, Às ruas e casas noturnas, o que se vê quase sempre são mulheres e meninas exibindo vulgarmente seus corpos como se fosses produtos numa vitrine, algumas objetivando a fama, outras como forma de vender seu corpo e outras meramente para viver quantitativamente a sexualidade.

Historicamente podemos dizer que a nudez se origina com Adão e Eva, ligada de certa forma ao pecado original, como aponta o livro do Gênesis “então os seus olhos abriram-se; e, vendo que estavam nus, tomaram folhas de figueira, ligaram-nas e fizeram cinturas para si.”.

Nas sociedades antigas o nu sempre esteve estreitamente ligado à luxúria, a totalidade do corpo sempre foi envolto de mistérios e encantos, considerava-se que os cabelos eram dotados de poder, e nas mulheres este poder era erótico. Ainda hoje, o soltar do cabelos longos e esvoaçantes simboliza sensualidade.

Essas questões nos levam a pensar se tamanha exposição do corpo caracteriza-se como um momento de libertação da sexualidade feminina e a superação da visão dogmática moralista patriarcal ou se, nos dias de hoje, esta simbolizaria tão somente a uma vulgarização e banalização da nudez, e consequentente da ideia do corpo como mero objeto sexual e da consolidação da visão capitalista e mercantilista da sexualidade.

Ainda há que se pensar hoje na apologia ao corpo, do culto ao corpo que para ser belo tem que seguir o estereótipo moldado pela ordem imperativa da estética atual ou seja o corpo considerado belo e ideal tem que ser magro, moldado, manipulado, enfeitado. O corpo naturalmente nu, deixou de ser admirado se não conter os adornos e exigências estéticas culturais. A mulher deixa de apreciada na sua totalidade, assim como corpo deixa de ser apreciado pela maciez da pele, contorno naturais, cheiro. Para ser perfeito tem que ser magro, esguio. Escravas da sexualidade capitalista e mercantil e quantitativa mulheres submetem-se às dietas rigorosas e muitas vezes absurdas, não para ter qualidade de vida, mas para ser consideradas sexualmente belas, das às cirurgias plásticas e silocones, na maioria das vezes sem necessidade, apenas por modismo e pura vaidade, como se a sexualidade e mulher se resumisse apenas isso.

Sendo assim, concluímos nesse sentido que, se por um lado, a mulher conseguiu se libertar das amarras moralistas da sociedade patriarcal, e se permitiu sentir prazer ao invés de apenas procriar, conseguindo se emancipar de antigas escravidões: sexuais, procriadoras ou indumentárias. Por outro lado, muitas mulheres ainda continuam se submetendo a explorações e alienações estéticas, sociais e sexuais. O corpo continua sendo ainda escravizado sexualmente e o pior uma exploração consentida, embora condicionada e alienada.

Sempre digo que aprecio e admiro o corpo nu e arte que retrata o corpo, mas não a arte mercantil e a nudez vulgar e banal. Aprecio a verdadeira arte e a beleza do corpo naturalmente sensual, da entrega afetiva e sexualmente intensa do encontro de corpos nus, e essa beleza só pode ser vista por olhos também despidos, livres de moralismos falsos, de dogmas, despidos de *pré –conceitos*. Olhos que conseguem além da nudez do corpo, enxergar a alma desnuda. Por que não somos apenas corpo, somos uma totalidade, e isso é que torna verdadeiramente significativa a vivência da nossa sexualidade.

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