sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Falando um pouco do nosso trabalho como pesquisadora e vice-presidente da ABRADES – Associação Brasileira de Educação Sexual

Gostaria inicialmente de ressaltar que a ABRADES tem como proposta a implementação de uma Educação Sexual Emancipatória pautada numa exigência ética, estética e política almejando a formação de uma vivência autônoma e crítica da sexualidade. Por isso, lutamos por uma formação docente para a educação sexual nas escolas, para que possamos elevar a qualidade das intervenções sobre a temática da sexualidade. O que visualizamos hoje são crianças, jovens e adultos com informações pautadas na visão senso-comum, condicionados pela mídia, pela sociedade capitalista que induz à uma sexualidade mercantilista, consumista, quantitativa.

Podemos dizer que as pessoas hoje, têm acesso mais facilmente às informações sobre sexo, mas como já dissemos em outro momento há uma grande diferença entre informar e educar, entre informar e formar, entre informar e conscientizar.
Acreditamos que o caminho para mudarmos este cenário de crise social sexual só pode se dar por pelo viés de um processo que o prof. César Nunes denomina de emancipação. Ou seja a superação das visões e comportamentos a que fomos condicionados e somos ainda condicionados pela cultura, pela sociedade, através da superação de: preconceitos, tabus e valores arraigados culturamente seja em relação ao gênero, seja em relação ao reducionismo corporal da sexualidade disseminada pela sociedade vigente.

A mulher antes repressiva e reprimida passou hoje a uma liberalidade abusiva condicionadas pelo mercantilismo sexual do mercado capitalista que com uma visão pós-moderna vendeu a idéia de emancipação sexual da mulher, quando na verdade escondeu que essa emancipação foi pautada numa estética sexual e corporal, que do corpo reprimido e oculto, tornou-se escrava de uma beleza sexual corporal e objeto (pois, lamentavelmente ainda hoje, reduzem às qualidades de uma mulher à um corpo belo), ledo engano, pensar que já atingimos a emancipação sexual feminina, estamos longe disso, especialmente porque acredito que nós mulheres só atingiremos essa liberdade e igualdade quando conseguirmos que a sociedade reconheça nossos potenciais intelectuais, culturais e profissionais, que estão muito além do reducionismo corporal feminino.
A nossa luta não é apensa por liberdade, mas por conscientização, por pessoas capazes de refletir criticamente e então viver sua sexualidade de maneira plena, mas responsável, superando a tradição patriarcal repressiva e a mercantilização permissiva.

A Educação Sexual que tanto almejamos objetiva a construção de uma sociedade onde as relações sejam pautadas na igualdade de direitos, deveres e espaços, com respeito, afetividade, sensualidade e não na vulgaridade, no erotismo e não na banalização, onde que homens e mulheres (sejam homossexuais, bissexuais ou heterossexuais) deixem de ter essa classificação que segrega e sejam tratados acima de tudo, como seres humanos que somos, e onde todos possamos ter uma relação social e sexual pautada na igualdade.Por isso, voltamos a dizer que embora a educação sexual (quando acontece na escola, pois nem sempre ocorre) precisa superar apenas a dimensão médica-higienista-biologista que reduz a sexualidade à prevenção de DST´s, preservativos e anticonceptivos; superarmos também a visão meramente procriativa e anatômica da sexualidade, que acaba por reduzir à sexualidade ao sexo (macho e fêmea), às genitálias, como se a sexualidade fosse apenas isso.
A Educação Sexual que almejamos tem que ser oferecida não apenas por voluntarismo e boa vontade mas por pesquisadores da área da sexualidade, educadores sexuais que na sua formação estudam a sexualidade em todas as suas vertentes: históricas, filosóficas, políticas, psícológicas...
Por isso, nossa luta por uma Educação Sexual Emancipatória.

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