domingo, 20 de dezembro de 2009

De Volta ao nosso deleite!

  • Primeiro queria me desculpar pela demora em retornar às postagens, porém esse segundo semestre foi atípico em todos os setores, além das demandas da profissão docente, da coordenacão de TC, dos meus escritos e pesquisas, e das participacões em congressos e simpósios, final de semestre e sempre uma correria, ainda mais com centenas de provas, trabalhos, resenhas e projetos para corrigir. Mas enfim, sobrevivemos! Agora de férias, vou poder dedicar um tempo aos meus escritos e poesias e sonhos mais subjetivos. Quero postar hoje algo que já havia prometido, eu diria que não é uma resenha, uma espécie de degustação, para que vocês sintam o gosto, e sintam vontade de saborear o livro no todo, seria um convite à leitura de "Eros e Civilizacao" de Herbert Marcuse. Apresentaremos na verdade, dois conceitos (categorias) necessários na compreensão dessa obra, a conceituação de Repressão Sexual e Trabalho.

    Marcuse se utiliza de conceitos psicanalíticos buscando uma melhor compreensão da Repressão Sexual, utilizada por nossa sociedade para sua auto-conservação. Ele denomina essa sociedade unidimensional ou seja, sem dimensões e/ou diferenciações de valores. Tudo equivale a tudo, todos a todos (como se, basicamente, tudo fosse mercadoria), numa condição de objetos de consumo.


    Apresenta ainda, o que ele chama de sociedade administrada, isto é, não há real (pura) liberdade de expressão. Tudo o que dizemos, fazemos, pensamos, gostamos e não. Ele coloca que tudo é controlado por uma força maior, inapontável e incombatível.

    Marcuse fala sobre o que ele conceitua como Super-Repressão, que afirma ser um conjunto de restrições e imposições que auxiliam a domesticação do Homem para o convívio em sociedade, indo além do Recalque e da Contenção do Princípio de Prazer por exigências do Princípio de Realidade de Freud. Quando Freud expõe a Contenção do Princípio de Prazer, ele traz uma explicação que o homem vive em constantes angústia e penúria, assim devendo trabalhar para sobreviver a esse desgosto. Com isso, não só a Libido é sublimada e convertida num melhor rendimento, mas também o prazer é ensinado a se protelar para suportar frustrações e angústias longas (às vezes definitivas). Ou seja, nessa vertente o trabalho (de certa forma deveria ser convertido “em prazer”, ou melhor, em momento de anestesia para nossas ângústias, com a mente ocupada com o trabalho, nosso corpo não “sofreria”, ou melhor nossa Libido torna-se oculta. Na Super-repressão não é o bem-estar individual que importa e sim a existência e bem estar na sociedade. Considera-se que a Super-Repressão, assim como fragmenta as condições existenciais desses indivíduos sociais quase que absolutamente, fragmenta também a sexualidade.


    Ou seja, o trabalho torna-se o aspecto central e fundamental de nossa existência, e para que este seja aceito como valor e virtude central, ocorre a dessexualização e deserotização do corpo destruindo as múltiplas zonas erógenas que possui afirmando que qualquer estímulo a elas é imoral, perverso e criminoso, reduzindo a sexualidade então a mera cópula com fins procriativos, limitando-a à genitalidade (ainda assim “controlada” e reprimida).

    E aqueles que buscam superar essa Super-repressão, buscando a satisfação de suas necessidades, desejos e vontades, se for conservada, serão considerados socialmente pervertidos, imorais ou criminosos. Porém, a Super-Repressão não visa à dominação por si só, mas sim à funcionalização do Homem transforma o trabalho que era virtude em trabalho alienado, privador de satisfação, prazer, alegria e compensações (sendo essas últimas adiadas, mas nunca alcançadas), assim destornando-o fonte de criação e sublimação. Acaba por matar o prazer. A sociedade racionalizada é uma sociedade funcional, isto é, nela tudo o que existe, só tem direito à existência se for definido por um função útil, adequada e aceita: a sexualidade será, então, a função especializada em procriar e função especializada de alguns órgãos do corpo.

    Para que a Super-Repressão ocorra devidamente é necessário, contudo, que ela esteja internalizada; e, para que possa ser internalizada, recorre à divisão do tempo e espaço, limitando-os e suas possibilidades de propiciarem um momento para a sexualidade. E, para piorar, essa limitação de tempo-espaço não ocorre só com o sexo, mas também com o lazer. Essa problemática implica num terrível dilema: o tempo possível de ser dedicado ao lazer é o mesmo da sexualidade. Diante dessa limitação temporal e espacial de possibilidade de satisfação o indivíduo encontra a opção mercantilista de sexualidade como uma “válvulva” ilusória de escape a pornografia, motel, sauna, casa de massagem, casas de swing, trazendo uma ilusão de liberdade sexual. E é por esse caminho que a Super-Repressão se articula com o Princípio de Rendimento.


    A super-repressão não se contenta com a dominação e a funcionalização. O trabalho que ela valoriza e transforma em virtude é o trabalho alienado, isto é, aquele que não traz satisfação, nem alegria, nem compensações, que não é fonte de criação, nem possibilidade de sublimação. Trabalho ascético da vida ascética, o trabalho super-reprimido não protela nem substitui o prazer: apenas o mata.


    Marcuse o determina como forma contemporânea do princípio de realidade: consumir para produzir e produzir para consumir. Com isso, o indivíduo sente-se humilhado se não atinge às demandas de consumo e produção impostas pela sociedade. Com isso, a identidade do indivíduo não depende mais da relação [corpo-psique-ics-consciência Natureza-cultura], mas dos critérios de avaliação social. Deixamos de ser autônomos quanto à sexualidade e nossas próprias vidas para sermos heterônomos ou seja, deixamos de seguir nossas próprias leis e passamos a ser determinados por leis alheias. Super-Repressão e Princípio de Rendimento, dessa forma, reduzem o Eros a quase zero e alimentam Thanatos em seu cruel e perverso desejo de morte, vazio e fim.


    Acontece que, assim como o recalcado retorna, retorna a Libido reprimida igualmente, que assume três modalidades de manifestação: Princípio de destruição; numa outra, ela reduz os autômatos humanos à infantilização, ao conformismo, à dessublimação repressiva (como, por exemplo, a exibição dos corpos nus pela propaganda como profanação); numa terceira, enfim, ela torna possível a rebeldia de Eros, a transgressão que não é afirmação do existente, mas sua negação (por exemplo, as "perversões" sexuais como fonte de saúde e de vida). Nesta terceira via, a sexualidade rebelde parte em busca da unidade perdida, da recomposição do corpo e do espírito, e recusa funções.


    Vale a pena ler e reler! Nos leva a compreender a partir dos conceitos da psicanálise a repressão sexual obtida através da racionalização exercida sobre o trabalho e sobre toda a nossa vida pela sociedade contemporânea, que tenta e na maioria das vezes consegue, transformar tudo e todos em mercadoria, objeto de consumo, mercantilizando inclusive, a sexualidade. ele chama de sociedade unidimensional (isto é, uma sociedade sem dimensões e diferenciações, onde tudo eqüivale a tudo, se troca.

    Indico, para uma complementar compreensão da temática, a leitura do livro "Repressão sexual: essa nossa (des)conhecida" da brilhante professora Marilena Chauí, publicado pela

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