sexta-feira, 26 de junho de 2009

Pausa na Sexualidade para abordar Educação sobre a decisão do STF em relação a exigência do diploma de Jornalismo

ESTE É BRASIL QUE VALORIZA A EDUCAÇÃO?


Cláudia Ramos de Souza Bonfim
Professora, Doutora em História, Filosofia e Educação – UNICAMP


Ronei Aparecido Thezolin
Jornalista, Graduado em Comunicação Social - Jornalismo - PUC Campinas-SP
Pós-graduado em Comunicação Jornalística pela Faculdade Cásper Líbero-SP
Assessor de Imprensa


É revoltante. É por essas e outras que a gente confirma: a classe hegemônica que rege este país não está mesmo preocupada com a formação, é um verdadeiro descaso com a educação.
Ao deparar-nos com essa decisão do Superior Tribunal Federal (STF) nesta quarta-feira, dia 17 de junho de 2009 de derrubar a obrigatoriedade do diploma para exercício da profissão de Jornalista nos vieram na mente outras decisões tão próximas de nós, tomada por algumas Secretarias de Educação no Brasil que através de portarias estabelecem critérios para privilégios docentes onde a formação do professor é praticamente desconsiderada, coladas em último plano. Então nos perguntamos: se é assim dentro do próprio Sistema de Educação que não valoriza o profissional que se dedica, que investe em si, que se empenha em melhorar a qualidade da sua práxis quem dirá que essa valorização ocorreria por meio da classe dominante que rege as leis desse país em benefício da perpetuação da sua classe no poder.

Não é questão de ser a favor ou contra o diploma. Quem está no mercado sabe: com diploma ou sem, não há lugar (por muito tempo) para quem não tem competência. Para quem não se dedica. Há espaço para todos, ninguém rouba o seu lugar se você dá o seu melhor no que faz. A questão é respeito. E depreciar qualquer profissional, seja ele cozinheiro, costureiro, professor ou Jornalista é no mínimo deselegante, para não dizer anti-ético, etc. Ainda mais para um jurista em posição pública, ou para uma secretaria de educação que não valoriza o critério de formação. Mas como questionar etiqueta e ética numa esfera em que formação deixou de ser pré-requisito para tornar-se qualidade?

Quem conhece um pouco de história sabe que o diploma não era necessário quando as receitas de bolo substituiam as notícias sobre a ditadura e as aulas eram massantes e os alunos eram desrespeitados, agredidos verbal e fisicamente através castigos desumanos. E a questão não era se estes alunos aprendiam (memorizavam ou não), aqui não é esse o mérito da questão. Mesmo assim, tinha gente que arriscava textos brilhantes em vez de bolos, e aulas brilhantes também, ainda que os inspetores os pudessem denunciar por abrir mentes e ousar dar uma aula diferente. E costurava os militares sem que eles nem notassem. Cerzimento invisível, especialidade de alguns costureiros. Parte desses não-diplomados notáveis participou e construiu redações históricas. Sem diploma. Só com brio, caráter, jornalismo no sangue. E trabalho, muito trabalho.

Coisa de fazer inveja a gerações como a nossa - que sonhávamos em dividir uma página, uma idéia ou um café com esses caras. Ou poder reger uma sala de aula e ser chamada de Professor(a). Apesar da posterior necessidade do canudo (não o de doce de leite, o das universidades), ainda chegava gente nas redações que mal sabia escrever. Ainda chegava docentes nas salas de aula também sem saber escrever e falar. Ainda chega. Lembramos que numa turma (de Jornalismo) tinha coleguinha escrevendo família com "LH", no segundo ano, há 12 anos. E tinha professores que terminando o curso de Letras cometiam absurdos gramaticais também. Vai saber onde parou essa gente. O duro é que muitas delas estão no mercado ou nas salas de aula, tentando ensinar Português.

Afinal o mercado de ensopados e afins e o Sistema Educacional que não privilegia a formação tem lugar para alguns deles. Outros, quem nem com a brecha vão conseguir escrever um parágrafo dessa sopa de letrinhas, ou nunca estarão numa sala de aula ainda têm uma saída: podem fazer uma faculdade de Direito e, com diploma embaixo do braço, tentar uma vaga no STF, para viver como os “grandes” e “exemplares magistrados” que cassaram o diploma de jornalistas, às vésperas de a corte lançar o edital de um concurso para contratar 14 profissionais da área, ou fazer um curso de Pedagogia e tentar alcançar um cargo de Secretaria da Educação de algum município deste imenso país que baixam portarias que desvalorizam quem procura ser melhor qualificado.

Não concordamos com a decisão do STF. Nem como decisões como de algumas Secretarias de Educação. Porque são retrocessos no Sistema Educacional Brasileiro. Será que os ministros pensaram que a população, mesmo com Ensino Superior, não consegue emprego? Será que pensaram que a população, sem acesso ao conhecimento, será alguém da e na vida? Será que os ministros pensaram que as pessoas que não tem Ensino Superior ganham Salário Mínimo? Será que é possível ter casa própria com esse dinheiro? Comer com esse dinheiro? Ter um carro com esse dinheiro? Ter lazer, cultura ou viajar com esse dinheiro? Ter uma vida digna e justa sem formação? A população mal tem acesso ao Ensino Básico, nem ao médio e imagina ao Superior e a um curso de Pós-Graduação Stricto-Sensu? Será que os ministros sabem o que é escola pública no Brasil?

Claro que não, pois seus filhos não estudam nela. Muitos nem estudam no Brasil. As crianças e jovens chegam ao Ensino Superior (quando chegam) e não sabem o que cairá no vestibular. Não sabem, porque o conteúdo não foi dado, não foi ensinado e não houve acesso ao conhecimento desde o início no Ensino Básico. Porque a escola tem se tornado um lugar de morte e não de vida, os alunos freqüentam as escolas porque são “privilegiados” com programas assistencialistas como Bolsa Escola, vale leite, etc. E não porque ali seja um espaço onde aprender é prazeroso e instigante. Afinal estamos pleno século XXI e a escola continua no início do século XX.

Fora a política do Proune que é uma forma oculta de ir privatizando o Ensino Superior, em doses homeopáticas, que em vez de ampliar e melhorar as universidades existentes, contratar mais professores, melhorar os salários, ampliar as vagas das Universidades Públicas, injetam dinheiro público no ensino privado.

E mais tem escola que não tem carteiras, nem cadeiras, nem lousas, nem material escolar, muito menos material didático, nem uma merenda decente, nem uniforme, não tem transporte e etc. Qual é o futuro desses alunos? Realmente, para que estudar e encontrar todos esses problemas durante a vida? Se seremos desrespeitados em nossa condição de profissional. Para que estudar se os privilégios de classe se perpetuam e se passam de geração para geração? Estou falando de educação, mas não estou falando de segurança pública, da saúde, da moradia, do transporte, das estradas e etc. Essas crianças e jovens (os alunos) terão emprego sim. Uns porque trabalharão com jeitinho de brasileiro e sobreviverão, sobreviverão, sobreviverão. Outros estarão por aí sem emprego, sem família, se educação, os foras da lei. Porque eles entendem outras leis e não a do sistema, não entendem das necessidades, das condições de vida da nossa população.

Por fim, será que os ministros pensaram que seus filhos viverão nesse mundo? Claro que pensaram. Eles viverão sim, porque eles serão os alunos exemplares e o futuro será assim: com emprego, serão éticos, terão conhecimento cultural e tecnológico, terão condutas intocáveis, emprego a escolher, terão casa, ou melhor, mais de uma, terão carro, ou melhor, mais de um, viajarão não só aqui mais pelo mundo. E o jornalista? O jornalista é mais um dos alunos tentando pegar o ônibus, tentando morar, tentando estudar, tentando comer, tentando viajar... Vai tentando, vai tentando. Quem sabe um dia você será um ministro do STF. E as Secretaria de Educação? Será que pensaram que se a educação continuar como está não vamos nunca conseguir criar possibilidades de superação das desigualdades sociais deste país?

Claro que tanto os “intelectuais” que regem a educação e os que regem as leis deste país pensaram nisto. Afinal eles jamais deixariam de pensar no interesse da classe a que pertencem. Não é à toa que se eles discursivamente dizem priorizar somente a Educação Básica nesse País, nem todo mundo consegue ler o pano de fundo. Eles pensaram muito bem em tudo isso sim, sim, porque eles querem apenas perpetuar o poder entre os seus, afinal para eles a classe desfavorecida precisa continuar sendo mão-de-obra barata para o mercado capitalista e mão-de-obra não precisa pensar, só executar e operar máquinas. Lamentável, esse é Brasil que diz tanto investir na educação e na formação do cidadão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Você também pode gostar de:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...