segunda-feira, 29 de junho de 2009

Paulo Freire uma lição de vida e cidadania


As injustiças sociais me instigam, me inquietam, me fazem sofrer, me inspiram a escrever, me movem, me conclamam lutar, ao mesmo tempo, que parecem destruir meus sonhos, me renovam forças... Escrevi este texto após a leitura de um dos mais emocionantes e convocatórios livros: “À Sombra Desta Mangueira” do Mestre Paulo Freire, leitura que deveria ser obrigatória a todos, especialmente aos educadores, e aos políticos para quem sabe despertar nestes a virtude da humanidade e da misericórdia.

Freire fala do exílio, do Brasil, do seu sonho de educador; nos faz sofrer e sonhar com ele, nos revigora as forças e esperanças e nutre nossas utopias. Já de início manifesta sua recusa a crítica cientificista que insinua falta de rigor no modo como discute os problemas e na linguagem demasiado afetiva que usa. Faço minhas, as palavras dele: “a paixão com que conheço, falo ou escrevo não diminuem o compromisso com que denuncio ou anuncio. Sou uma inteireza e não uma dicotomia. Não tenho uma parte esquemática, meticulosa, racionalista e outra desarticulada, imprecisa, querendo simplesmente bem ao mundo. Conheço meu corpo todo, sentimentos, paixão. Razão também.”

E continua: “Sou um ser no mundo, com o mundo e com os outros, um ser que faz coisas, sabe e ignora, fala, teme e se aventura, sonha e ama, tem raiva e se encanta. Um ser que se recusa a aceitar a condição de mero objeto; que não baixa a cabeça diante do indiscutível poder acumulado pela tecnologia...” Concordo Freire quando esclarece que um sistema econômico que não prioriza as necessidades humanas, produzindo políticas assistencialistas e continua a conviver indiferente com a fome de milhões, não é merecedor do respeito dos educadores nem de qualquer ser humano. E salienta que “não me digam que as coisas são assim porque não podem ser diferentes”.

Afirma que as coisas não mudam porque, se isto ocorresse, “feriria o interesse dos poderosos”, e nos convoca para a luta da transformação social nos alertando: “Não posso tornar-me fatalista para satisfazer os interesses dos poderosos. Nem inventar uma explicação “científica”para encobrir uma mentira... É preciso que a fraqueza dos fracos se torne uma força capaz de inaugurar a injustiça. Para isso, é necessária uma recusa definitiva do fatalismo. Somos seres da transformação e não da adaptação.” Temos que romper com o determinismo, com os espaços definidos pelos poderosos como o espaço de sobrevivência da classe dominada. E insiste em dizer que “a História é possibilidade e não determinismo. Somos seres condicionados, mas não determinados.” E que devemos entender a História como possibilidade, de ruptura, de transformação. Afirma que no exílio, o Brasil todo lhe fazia falta, e insistia em dizer “Sou brasileiro, sem arrogância; mas pleno de confiança, de identidade, de esperança em que, na luta, nos refaremos, tornando-nos uma sociedade, menos injusta.”

E que se recusava a aceitar que não há nada a se fazer, diante das conseqüências da globalização da Economia, que devemos nos recusar a curvar docilmente a cabeça. Como Freire nós educadores não podemos, jamais, aceitar que a prática educativa deva se ater-se tão somente à “leitura da palavra”, à “leitura do texto”, mas que tem necessariamente que ater-se também à “leitura do contexto”, à “leitura do mundo”. Devemos como Paulo Freire diz alimentar nosso “ otimismo crítico e nada ingênuo, na esperança que inexiste para os fatalistas.” Não poderia ainda deixar de citar meu grande mestre César Nunes que sempre nos convida e convoca a todos educadores e cidadãos para que continuemos a luta, e nos colocando que os obstáculos podem retardar nossa vitória, mas não suprimi-la.


Autora: Profa. Dra. Cláudia Bonfim - Artigo Publicado no Jornal Popular de Cornélio Procópio - PR

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