quinta-feira, 18 de junho de 2009

Erotização Precoce e Mídia


Sabemos que a mídia cria símbolos sexuais e significações que influenciam profundamente o comportamento social, especialmente crianças e adolescentes que ainda não possuem discernimento desses “modelos” estrategicamente idealizados de forma a induzir a venda de produtos ou modelos denominados “modernos” de comportamento. E consideramos que, se a escola não se posicionar, torna-se um, dentre os mais variados cenários, dessa legitimação dos discursos da mídia (sendo esta o aparelho que legitima o discurso que a sociedade capitalista considera ideal nos dias de hoje). Desde o vestuário à fala dos personagens, as relações sexuais passam a direcionar em grande número a construção da identidade sexual das crianças e jovens, condicionados a adaptarem seus valores a partir dos “modelos” criados pela mídia. O que muitas vezes ocorre no discurso do professor e mesmo familiar é uma visível contradição, pois dentro do espaço escolar e familiar, muitos pais e professores se posicionam de forma repressora e conservadora, no entanto, no espaço social, estes também se adaptam aos modelos construídos pela mídia, o que não se configura em exemplo prático, mas tão somente numa falácia discursiva.
Através das influências da mídia, crianças e adolescentes são condicionados a construírem sua identidade social e sexual. As telenovelas, os programas televisivos, os instrumentos publicitários, entre outros, modelam o comportamento dos jovens, influenciando profundamente sua maneira de ver e agir. Além de transformar a sexualidade num produto de consumo, a mídia ainda promove a construção de compreensões diversificadas das relações do gênero, funcionando como “modelos” de condutas sexuais. Os programas de cunho religioso, especialmente veiculam discursos dogmáticos, moralizantes e normatizantes. Por outro lado, há outros programas que discutem as questões de sexualidade, padronizando o diferente, impelindo a “quebra de tabus”, onde posturas e valores de universos distintos como a questão da virgindade é considerada costume “ultrapassado” e assim, abrem espaço para novos comportamentos a serem seguidos, como a aceitação natural do homoerotismo no mesmo nível e grau do sadomasoquismo, etc.
Ou seja, a sociedade capitalista tem contribuído cada dia mais para a erotização precoce das crianças, estimulando desejos e incitando-as a iniciarem precocemente sua vivência de uma forma de praticar a sexualidade. Na sociedade que virtualizou e mercantilizou o sexo e a sexualidade, pode-se dizer que estamos caminhando, para não afirmar que estamos vivendo, em tempos de uma sexualidade meramente instintiva, compensatória e desumanizada, sem levarmos em conta a dimensão ética. A sociedade capitalista vê o corpo como mera força de trabalho e com a mercantilização do sexo, o corpo produtor de bens, passa a ser “ele próprio” objeto, fonte de produção capital.
Daí, a urgente necessidade de se falar de ética, buscar desenvolver valores, capacidade de discernimento, espírito crítico, reflexões face às atitudes e comportamentos sexuais que imperam na sociedade, para que os adolescentes possam compreender os riscos e perceber as consequências que terão de enfrentar, ao iniciar uma vida sexual.
Consideramos que a família tenha um papel fundamental na construção de uma ética da sexualidade, pois é através dela que surgem as primeiras aquisições valorativas da vida e da própria sexualidade, os pais não podem delegar à escola o papel que lhes cabe, a educação sexual escolar vem complementar, enriquecer, levantar questionamentos e contribuir para a formação ética e estética da sexualidade humana, mas cabe à família um diálogo aberto sobre os valores éticos e estéticos da sexualidade.
Concordamos com Guimarães (1995), que a família é a base na qual os sujeitos deveriam receber as primeiras informações referentes à sexualidade, sendo esta a primeira referência para que a criança construa sua identidade sexual e sua concepção primária de sexualidade e de cultura, identidade mais cultural do que inata. No entanto, a família condicionada pela visão histórica da sociedade não tem, em sua maioria, contribuído para a educação sexual. Muitas famílias silenciam, ignoram ou preferem ocultar a sexualidade dentro da educação de seus filhos.
A outra instituição formadora, a escola, também vive um dilema: quando não mantém um silenciamento sobre a sexualidade, tem feito um discurso empirista e superficial, ou seja, tem contribuído para consolidar o discurso moral vigente ou para mistificar o hedonismo real. Ainda presenciamos, quando o assunto é sexualidade, especialmente em relação às questões de gênero, expressões preconceituosas, ou de “horror”, quando a escola se depara literalmente com fatos que obriguem os docentes a verem que as crianças não são assexuadas e a sexualidade está despontando nelas.
Não podemos também deixar de evidenciar que, muitas vezes, quando a escola tenta aprofundar o debate da sexualidade, esta sofre possíveis “represálias” por parte de muitos pais, ainda condicionados pela forma como foram educados e vivem sua sexualidade, consideram essas questões como “pornográficas” ou tratar dessa temática da escola incita os alunos a iniciarem uma vida sexual. Uma visão moralista e equivocada, pois a sexualidade está exposta nos mais diversos veículos de midiáticos, especialmente a internet que, lamentavelmente, traz desinformações e falsos valores, e a escola não pode ficar alheia aos problemas sociais, inclusive relacionados à sexualidade como a “gravidez precoce”, a disseminação da AIDS e demais DSTs, assim como não pode deixar de abordar a pedofilia, a violência sexual, a pornografia infantil que tem aumentado cada dia mais.
Mesmo diante de questões tão graves e urgentes como estas, sabemos que, quando o tema sexualidade é debatido na escola, muitas famílias ainda manifestam rejeição a essas informações, e a universidade ainda não inseriu nos cursos de formação de professores, disciplinas ou campos temáticos que preparem os docentes para debaterem sobre a sexualidade, buscando contribuir para a superação dessas problemáticas sociais. Sendo assim, os docentes reproduzem sua visão senso-comum sobre sexualidade, perpetuando valores, conceitos e preconceitos embutidos em sua formação, seja ela familiar ou escolar.
Nos dias de hoje, diante da velocidade de (des)informações veiculadas pela mídia, a escola torna-se inofensiva, quando, ao abordar a educação sexual, restringe a sexualidade humana apenas a um conteúdo anatômico fisiológico, como afirma Nunes (1987, s.p.):
Quando entendemos o sexo como a marca biológica, só podemos entender a sexualidade como a marca humana, e dela temos que buscar a significação existencial e social que construímos a partir e sobre a possibilidade biológica. Temos à frente crianças e adolescentes “ansiosos por saber de si”, por entender o sexo e sexualidade, de compreender suas potencialidades, de assumir-se como sujeito, capaz de amar... A afetividade é o que torna a sexualidade essencialmente humana.


A Sexualidade é fundamental e maravilhosa, mas como tudo na vida exige maturidade, responsabilidade e a hora certa para acontecer. Antecipar uma vivência sexual inclusive pode provocar traumas e frustrações que dificilmente conseguem ser superados.


Diga Não à erotização Infantil!

Amanhã continuaremos esse diálogo... enquanto isso reflitam sobre essas colocações!

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